domingo, 22 de janeiro de 2012

GUARDO NOS OLHOS, NA ALMA E NO CORAÇÃO, O EXUBERANTE PÉ DE ACÁCIA ROSA DA FAZENDA SANTA ÁGUEDA

O CANAVIAL - UMA VISÃO DE SONHOS E PARA OS QUE SABEM SONHAR, SOB O CLARÃO DO SOL, DAS LUAS, OU EM PLENA AURORA!
NA ESTRADA, OS VERDES E VIVOS CACTUS, COM SUAS FLORES DELICADAS E SEUS FRUTOS EM MEIO AOS ESPINHOS, PORÉM DELICIOSAMENTE DEGUSTADOS PELOS BOIS.
O PÉ DE ACÁCIA COR DE ROSA
Lúcia Helena Pereira

SENTINELA DE TODAS AS HORAS, A BÚSSOLA APONTANDO OS CAMINHOS!



Onde buscar palavras para descrever um bordado de flores de todas as cores e formas, quando de minhas idas, com papai (*), à sua Fazenda Santa Águeda, no vale verde do Ceará-Mirim, onde uma acácia cor de rosa sinalizava os caminhos?
As palavras, na verdade, perdem-se no meu emaranhado de pensamentos, lembranças e sentimentos de tempos felizes da infância e adolescência, entre Ceará-Mirim e Natal/-RN.

Lembro-me, ainda menina, das muitas vezes que visitei a fazenda. Lá estava o estendal verde arreganhando suas asas sob o baloiço do vento. De Ceará-Mirim, até Santa Águeda, o percurso (naqueles tempos, com as estradas em péssimas condições) levava de 40 a sessenta minutos. Um tempo que devotava às minhas contemplações diante da vegetação perfumada e bela: as oitiças (árvores bem altas); os xique-xiques, mesmo sob a inclemência do sol, exibindo seus frutos e flores; as palmeiras abanando-se com seus leques gigantes; os pés de açafrão enfeitando as cercas humildes; as babosas brilhantes e serenas; os quintais com pés de matruço e as hortaliças; a vegetação importante de tirar mau olhado: arruda; pinhão roxo também resguardando a sorte; as galinhas passando na estrada, cabritos, vacas, jumentos...os cães latindo, como a avisar a presença de intrusos.
Essas eram as viagens mais belas que eu fazia dentro de mim mesma, vendo e revendo caminhos de outrora, ouvindo as vozes dos meus avós e dos compadres dos meus pais.
Já morando em Natal, vez ou outra visitava a fazenda com a vasta plantação de cana-de-açúcar, à época, na boa safra, fornecido o seu produto aos engenhos e usinas. Lembro-me do canavial de Santa Águeda - até hoje, como se fosse a grande tela de Van Gogh - com a natureza completamente viva, verde e luminosa. Tudo isso me provocava uma sensação incomparável: após percorrer caminhos pedregulhos, árvores do sertão em solo duro castigado pela falta de água, a visão do canavial era um presente ao olhos. Ali estava o canavial com sua exuberância, suas palhas alvoroçadas ao soprar dos ventos, os raríssimos pássaros azuis e simples pardais cruzando os ares, a passagem pela pequena e rudimentar ponte do rio Água Azul, com seus olheiros de águas escuras e misteriosas, espelhando meu rosto de menina.
Chegávamos cedinho, montávamos nos cavalos, juntamente com o capataz - sr. Auto - homem sério, bom caráter e percorríamos a fazenda com suas canas altaneiras. Bem antes de chegarmos à primeira porteira, logo avistávamos o gigante cor-de-rosa: o pé de acácia! Parecia um poema, um buquê rosa de flores maravilhosamente nascidas como filhas do astro rei: luminosas!
Dona Diva, a esposa do capataz estava sempre a debulhar feijão verde, ou alimentando as galinhas, varrendo o terreiro... Dava gosto vê-la em passos ágeis até a hortaliça trazendo coentro, cebolinhas, tomates perfumados e pimentões. Colocava tudo na panela do feijão - panela de barro, no fogão de barro e à lenha.
N´outra panela a galinha (torrada) - galinha criada solta, pelos quintal - cujos ovinhos ela separava para mim. Meu pai nunca se descuidava e levava mantimentos para o dia em que passávamos lá.
Em Santa Águeda havia uma pequena criação de caprinos e uma vez ou outra dona Diva matava um bicho desse (dava pena a forma como eram mortos com mão de pilão), fazia o picado dentro do bucho costurado com linha e agulha (eu ficava horrorizada), ao final, uma prato saboroso que degustava com muita ânsia.
Papai tinha uma rede na Fazenda onde tirava um cochilo após o almoço. Eu ficava jogando milho para as galinhas ou ajeitando os jarros de plantas de dona Diva que ficava resmungando por cauda dos muitos gatos que desarrumavam seus jarros de flores.
Hoje, só para lembrar o pé de acácia indicando o caminho para a fazenda Santa Águeda. Eu sei que ele continua em seu lugar, dando sombra e flores. Ali deixei o paraíso onde fui sempre tão feliz, numa casa com alpendre e combogós, doze pilares com jarros de plantas penduradas. A casa onde um canavial se exibia e as algarobas enfeitavam a entrada do terreno...e os pássaros voavam e cantavam as suas harmonias!
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(*) Abel Antunes Pereira (meu pai)

3 comentários:

  1. e é para guardar sim, eternamente minha cara poeta!
    Deliciosa crônica, deliciosa rememorações!

    Beijo a ti!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Linda crônica, Lúcia Helena, em seu estilo lírico-fotográfico.Como sabe, também sou de rememoriar a vida.As fotos estão coadunadas com suas lembranças.Uma beleza!Abrs domingueiros:
    Clevane

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