domingo, 19 de fevereiro de 2012

UMA MARCHINHA DE CARNAVAL COMPOSTA POR TIO JUVENAL, NO FINAL DO ANO QUE ANTECEDEU SUA MORTE.

JUVENAL ANTUNES DE OLIVEIRA
PROMOTOR DE JUSTIÇA, POETA E BOÊMIO
(FOTO DE 1920 - RIO BRANCO/ACRE)
SOBRE A MARCHINHA DE CARNAVAL COMPOSTA POR TIO JUVENAL JÁ BEM DOENTE, NO FINAL DA DÉCADA DE 30, EM RIO BRANCO/ACRE.

Sem querer ser um fardo aos amigos, Juvenal Antunes lutava contra a sua enfermidade, mas, sem dispensar o bom humor. Foi o que aconteceu, após outros desmaios, em dias consecutivos, quando, num dos últimos, já recobrando os sentidos, Antônio Kalume (para animá - lo) começou a falar no carnaval que se aproximava. Juvenal estava pálido e suado. Comeu alguma coisa pelas mãos da bondosa dona do Hotel Madrid. Depois sentou - se numa cadeira de balanço e olhando para os velhos companheiros, pediu - lhes, em tom zombeteiro, que anotassem a letrinha de uma marchinha carnavalesca :“vão se anotando amigos, antes que a inspiração comece a sumir como a minha vida”..
Minutos depois estava pronta a letra da marcha: “Vou pular com o pé na cova”, musicada por Dedé dos Reis, para o bloco de Chico Garcia, em plena cidade de Rio Branco, no Acre que ele tanto amava.
A letra da "marchinha", diga-se, quase não teria fim, não fosse Antonio Pelajo que o interpelasse: "Juvenal...quantas estrofes finalmente terá a marcha"???


VOU PULAR COM O PÉ NA COVA
Juvenal Antunes
Rio Branco - Acre - dez. 1940

Saiba esse Acre amado,
Terra do meu coração
Da minha eterna louvação
E encantador exílio,
Que já estou com o pé na cova
Mesmo assim não entrego os pontos.

Quero pular, frevar, cantar,
Até o sol raiar e os galos cantarem.
Quero a bela madrugada, a madrugada,
Pra apertar os peitinhos das meninas
Do bordel de Creuza, Creuzinha! (BIS)

A vida é boa, o mundo é lindo,
Vivam os amigos, os bons vinhos e os amores,
Coisas que nos alegram e fazem festejar
Os momentos fugazes deste carnaval.

Lá vem o bloco dos “mariquinhas”
Com suas plumas e trejeitinhos.
Deixe - o passar, passar, passar.
É gente boa, inofensiva, inocente,
Que a vida inventou pra não ser tudo igual!

Quero pular, frevar, cantar
Até o sol raiar e os galos cantarem.
Quero a bela madrugada, a madrugada,
Pr´apertar os peitinhos das meninas
Do bordel de Creuza, Creuzinha! (BIS)

Mesmo com o pé na cova
Vou me vestir de pierrôt
E nesse carnaval me embriagar
Dizer ao velho Acre - terra boa,
Que aqui cheguei e fiz misérias!

Vamos sacudir a poeira e tocar as cornetas
Acordar o Delegado para cair no frevo.
Dizer ao Sandoval que ele é muito chato
Pois fica apelando sempre pelo “habbeas corpus”
Do cunhado Elviro Ferreira!

Quero pular, frevar, cantar,
Até o sol raiar e os galos cantarem.
Quero a bela madrugada, a madrugada,
Pr´apertar os peitinhos das meninas
Do bordel de Creuza, Creuzinha! (BIS)

E se eu não puder sambar
Pensarei em minha Laura
E na grata esperança
De breve tê - la em meus braços
E morrer de amor!

Vamos parar com essas baboseiras
Porque estou com o pé na cova
Vendo a hora um vento forte
Empurrar - me de uma vez
E cadê o Juvenal?
Era besta e se acabou!

Quero pular, frevar, cantar,
Até o sol raiar e os galos cantarem
Quero a bela madrugada, a madrugada,
Pr´apertar os peitinhos das meninas
Do bordel de Creuza, Creuzinha”!

Fim.

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Em cartas à sua mana -Madalena Antunes - os amigos de Juvenal contaram que a marcha de carnaval fez grande sucesso e que dona CREUZA, (a dona do bordel), sentindo-se homenageada pelo poeta passou a frequentar as missas domingueiras em favor da sua recuperação. Quando lhe comunicaram a boa ação, Juvenal mandou - lhe uma carta em versos corridos e sem rimas:

“Digníssima dona Creuza.


Ser decantada em pleno carnaval
Foi, ainda, uma homenagem pobre
Pela excelsa figura que a senhora representa
Para esta cidade e o seu povo admirável.

Creio que as palavras, um tanto jocosas,
Usadas no estribilho da marchinha
Não fazem jus à beleza de suas meninas.

Agradeço, comovido e mais animado,
Os seus sacrifícios nas idas à Igreja
Em benefício deste pobre vivente,
Enfrentando os severos olhares
Das madames e carochinhas.

Disse-me o Delegado Rochinha,
Que a senhora até se confessou
Mostrando os olhos lacrimejantes.
E que, uma certa senhora,
Muita pedante desdenhou - lhe a presença.

Não se preocupe com isso, afinal,
Deus está para todos, creia,
E no céu, a senhora já tem o seu lugar garantido
Por ter contribuído com o sexo masculino
Favorecendo - lhe com suas belas pombinhas
Mal saídas dos ninhos!

Agradeço as suas preces
Que, certamente, serão atendidas.
Agora, vou caminhar um pouco,
Visitar velhos amigos.
Agradecido e honrado,
Seu amigo, Juvenal”!

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